10/31/21

A Bela de Xiaohe, uma múmia de 3.800 anos encontrada no deserto de Taklamakan (China).WENYING LI, INSTITUTO DE ARQUEOLOGÍA Y ANTIGÜEDADES CULTURALES DE XINJIANG

Análise genética descarta que as pessoas mumificadas com coloridos vestidos no deserto de Taklamakan, na China, foram imigrantes indo-europeus

O historiador norte-americano Victor Mair costuma contar que, quando viu pela primeira vez as múmias da cultura Xiaohe, em 1988, pensou que se tratava de um engodo aos turistas. Os cadáveres, encontrados no que hoje é o deserto de Taklamakan, no oeste da China, tinham 4.000 anos, mas estavam espantosamente bem conservados, com roupas de cores intensas e sofisticados adornos. Quase pareciam pessoas vivas. “O mais surpreendente é que praticamente todos são caucasianos. De onde vieram e como terminaram no coração da Ásia?”, se perguntou Mair à época. O historiador propôs uma teoria: aquela colorida civilização da Idade do Bronze não poderia surgir naquele rincão inóspito. Seus primeiros membros deveriam ser imigrantes de línguas indo-europeias, chegados a cavalo de lugares remotos da Eurásia. Uma equipe científica internacional afirma agora que resolveu o enigma: os surpreendentes membros da cultura Xiaohe, dizem, não vieram de montanhas longínquas: era uma população autóctone, sem grandes misturas há mais de 9.000 anos.

A bacia do rio Tarim está na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, um trecho da Rota da Seda que se encaixa no tópico da encruzilhada de culturas. Lá apareceram nas últimas décadas centenas de pessoas mumificadas de maneira natural, graças ao clima árido e frio, e frequentemente enterradas em misteriosos ataúdes de madeira em formato de barco. A antropóloga Christina Warinner descreve um dos traços mais fascinantes das múmias do Tarim: sua suposta aparência ocidental. “Eram pessoas altas, com o cabelo castanho, às vezes claro, e alguns homens tinham grandes barbas”, diz a pesquisadora, da Universidade Harvard (EUA). Alguns indivíduos chegaram a ser enterrados com máscaras de longos narizes. Uma das múmias mais conhecidas, a chamada Bela de Xiaohe, usava uma vistosa vestimenta de feltro e lã de ovelha, além de um majestoso chapéu branco.

Vista aérea do cemitério de Xiaohe, no deserto de Taklamakan (China).WENYING LI, INSTITUTO DE ARQUEOLOGÍA Y ANTIGÜEDADES CULTURALES DE XINJIANG

A origem dessas múmias sempre foi controversa, com três grandes hipóteses discutidas. Uma delas afirma que a sofisticada cultura Xiaohe vem de pastores imigrantes do sul da Sibéria, por sua vez conectados aos yamnaya, os nômades que abandonaram as estepes e cujos descendentes acabaram substituindo quase todos os humanos da Península Ibérica há 4.500 anos. As outras duas teorias defendem que eram agricultores vindos das montanhas da Ásia central e dos oásis do atual Afeganistão.

A equipe de Christina Warinner acha que nenhuma das três hipóteses é correta. Os cientistas analisaram agora o DNA de 13 múmias do Tarim e seus resultados sugerem que era uma população autóctone, sem grandes misturas há mais de 9.000 anos. Apesar desse marcado isolamento genético, entretanto, o grupo era “culturalmente cosmopolita”. Seus membros cultivavam trigo, cevada e painço, três plantas domesticadas no Oriente Médio e no norte da China. Também faziam queijo utilizando uma fermentação semelhante à do kefir, uma técnica aprendida, talvez, com os descendentes dos pastores da Sibéria. E enterravam seus mortos com ramos de efedra, uma planta considerada medicinal nos oásis da Ásia Central.

“Ficamos surpresos com o chamativo contraste entre seu isolamento genético e suas conexões culturais”, admite Warinner. “Não está claro como e por que mantiveram um isolamento genético tão rígido, mas sua abertura à adoção de novas tecnologias é o que provavelmente fez com que fossem bem-sucedidos na colonização dos oásis do deserto da bacia do Tarim”, acrescenta a antropóloga, que lidera a pesquisa com seus colegas da China, Alemanha e Coreia do Sul.

Escavação de uma tumba no cemitério de Xiaohe, no deserto de Taklamakan (China).
WENYING LI, INSTITUTO DE ARQUEOLOGÍA Y ANTIGÜEDADES CULTURALES DE XINJIANG

O estudo, publicado na quarta-feira na revista Nature, balança as exóticas hipóteses defendidas há décadas. O historiador Victor Mair, professor de chinês na Universidade da Pensilvânia (EUA) e um dos maiores especialistas nessas múmias, se recusa a comentar a nova pesquisa. “Acho que é basicamente defeituosa”, se limitou a afirmar ao EL PAÍS.

Mair publicou há duas décadas um livro de referência, As Múmias do Tarim. O coautor do volume, o arqueólogo James Mallory, acredita que o novo estudo é “extremamente interessante e valioso, ainda que seus resultados não sejam tão surpreendentes”. Mallory, da Universidade da Rainha de Belfast (Irlanda do Norte), opina que a análise genética ignora uma quarta hipótese “cronologicamente mais provável”: que os Okunevo —outra das culturas das estepes euroasiáticas durante a Idade do Bronze— foram os ancestrais das pessoas mumificadas na bacia do Tarim.

O próprio Mallory já estudou em 2015 os paralelismos entre estas duas sociedades, perdidas no tempo há 4.000 anos. “Se tivessem comparado o DNA com o dos Okunevo, seria um estudo muito mais sólido”, argumenta o especialista. A arqueóloga Paula Doumani Dupuy, da Universidade Nazarbayev (Cazaquistão), opina de modo diferente em um artigo paralelo na revista Nature. Em seu entendimento, a nova análise já “respondeu à pergunta das origens genéticas da cultura Xiaohe”.

A busca das raízes das múmias foi problemática desde o começo. Muitos uigures —a minoria muçulmana de língua e etnia turcomana que hoje vive na região— querem a independência da China e imediatamente tomaram para si as singulares múmias do Tarim, cuja antiguidade de 4.000 anos supostamente daria a eles prioridade sobre a etnia han, a majoritária do país, que chegou dois milênios depois. Na verdade, como argumentou há cinco anos o próprio Victor Mair, os uigures chegaram à bacia do Tarim um milênio depois dos han. O historiador também afirmou que os membros da cultura Xiaohe foram “um povo pacífico e igualitário”, quase sem armas e grandes diferenças de status em suas tumbas. O que parece claro é que suas coloridas múmias não têm nada a contribuir às guerras do século XXI.

Via: El pais


O fotógrafo em uma das tribos que conheceu no interior do Sudão do SulImagem: Arquivo pessoal

O fotógrafo alemão Michael Runkel (@michaelrunkelphoto), de 52 anos, é uma das pessoas mais viajadas do mundo.

Com trabalhos realizados para veículos como a "National Geographic Traveller" e "The New York Times", ele já esteve em todos os países do globo e se especializou em explorar lugares remotos e perigosos como a costa da Somália, o interior do Afeganistão e as profundezas do Iraque.

Aventuras na África
Porém, poucos destinos foram tão difíceis para Michael desbravar como o Sudão do Sul, que conquistou sua independência do Sudão em 2011 e é considerado a nação mais nova do planeta com amplo reconhecimento da comunidade internacional.

O alemão passou 12 dias no país africano neste ano, com o objetivo de fotografar diferentes tribos locais — e, nesta jornada, enfrentou um território abalado por contínuas guerras, com parca infraestrutura e cenários propícios para grandes perrengues.

Michael com os membros da escolta armada que o acompanhou em regiões do Sudão do SulImagem: Arquivo pessoal

E a experiência de viagem começou logo após o desembarque no aeroporto que serve a cidade de Juba, capital do Sudão do Sul.

"O terminal do aeroporto ainda é muito pequeno e quase não tem ar-condicionado. No dia em que cheguei, a temperatura estava em 42 graus. Além do teste negativo para covid-19 obrigatório, os oficiais de segurança são obsessivos com equipamentos de fotografia. Eles reviraram minhas malas e olharam cada uma das minhas câmeras", explica.

"Antes da viagem, eu já sabia que não seria possível levar um drone, pois este tipo de equipamento é totalmente proibido por lá. Eu poderia ser preso se achassem um drone na minha bagagem"

Aeroporto de Juba, a capital do Sudão do SulImagem: Getty Images

Esta atmosfera de paranoia existe no país muito por causa da guerra civil que assolou o Sudão do Sul após sua independência — um conflito armado alimentado por disputas de poder entre líderes políticos do recém-nascido Estado soberano. Lá, estrangeiros com câmeras podem ser vistos como potenciais espiões a serviço de algum grupo político local ou inimigo estrangeiro.

E as preocupações não paravam por aí: no Sudão do Sul, o alemão esteve frequentemente acompanhado por escolta armada, visto que o país ainda é um lugar sob tensão bélica.
Da capital para o interior

Com mais de meio milhão de habitantes, a cidade de Juba é um local sem muitos atrativos. "É um dos poucos lugares do Sudão do Sul com real estrutura urbana e vias pavimentadas", diz ele.

"Mas não é recomendado tirar fotos de nada, pois você pode ter problemas com a polícia"

Soldado fazendo a guarda: preocupação com segurança é um dos desafios nas viagens pelo paísImagem: Getty Images/iStockphoto

Os grandes objetivos do alemão, entretanto, estavam fora da cidade grande: em remotas áreas tribais que, além do aspecto cultural, oferecem maior facilidade para colocar as câmeras para funcionar.

Após uma noite em um hotel na capital, ele voltou ao aeroporto para voar rumo à região de Equatória Oriental, para entrar em contato com tribos que vivem nesta zona do Sudão do Sul.

Mas, neste deslocamento, aconteceu mais uma situação curiosa.

"Cheguei ao aeroporto e, com outros passageiros, peguei uma van que cruzou uma pista com aviões de ajuda humanitária para nos levar até perto da nossa aeronave. O nosso avião era muito pequeno e começou a ser carregado sem nenhum tipo de verificação de peso. Ninguém via quantos quilos de malas e cargas estavam sendo colocados lá dentro. E, depois do embarque, havia três passageiros sentados em assentos de duas pessoas. A regra era não ter regra", conta.

Michael sobreviveu ao voo e, ao desembarcar no seu destino, teve que encarar deslocamentos terrestres desafiadores, frequentemente protegido por escolta armada.

"Quando você sai de Juba para ir ao interior, vê que nada ainda está funcionando", conta ele, dizendo que algumas das principais estradas do país são apenas vias de terra cheias de buracos e trechos alagados, onde rebanhos em movimento costumam dividir espaço com caminhões atolados.

"Ao viajar por estas estradas, fiquei impressionado ao ver que o Sudão do Sul ainda é um território sem plantações, apesar de ser banhado por rio. Parece que, lá, nada é cultivado para alimentar as pessoas", diz.

"E, de fato, muitos dos alimentos consumidos no país são importados de nações vizinhas, como Uganda e Etiópia. É uma situação insana"

Cenário captado por Michael no interior do Sudão do SulImagem: Arquivo pessoal

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 60% da população do país sofre atualmente de insegurança alimentar.
Encontro com as tribos

O esforço de Michael para transitar no Sudão do Sul o levou até diversas comunidades tribais que existem por lá.

Dormindo em acampamentos durante a viagem pelo interior do país, ele visitou povos de costumes únicos, como os Mundari, os Lotuko e os Toposa, em experiências realmente autênticas.

Selfie com umas das tribos que Michael visitou no Sudão do SulImagem: Arquivo pessoal

Muitos deles têm vidas muito parecidas com o que ocorria há centenas de anos. São culturas, de certa maneira, intocadas e de costumes extremamente interessantes. A única diferença é que alguns deles hoje carregam Kalashnikovs"

"Os Mundari, por exemplo, têm crenças animistas e vivem lado a lado com seus bovinos, que são seu sustento", explica. "Já os Toposa, quando jovens, fazem cortes em padrões simétricos em seu corpo, incluindo o rosto". As cicatrizes que surgem daí fazem parte da identidade visual deste povo.

Em muitas comunidades não há dinheiro: o comércio é feito por escamboImagem: Arquivo pessoal

E muitas destas comunidades sequer usam dinheiro. "Eles sobrevivem com a troca de comida e animais", conta, ressaltando também a dificuldade da vida nestes locais.

"São pessoas muito pobres, que têm que enfrentar uma realidade muito dura. E isso apesar de o Sudão do Sul ter petróleo. Mas o dinheiro não chega até as comunidades"

Michael visitou a região para conhecer as tribos e fazer imagens para meios internacionaisImagem: Arquivo pessoal

Michael não se viu no meio de nenhum conflito armado durante sua jornada pelo Sudão do Sul, mas acha difícil que o governo do mais novo país do mundo consiga criar um senso de identidade nacional entre toda sua população.

"O Sudão do Sul está fragmentado em sociedades tribais, que ainda entram em conflitos armados umas com as outras. Lá, não há identidade nacional, mas identidades tribais".

Via: Uol
Para ver as fotos que Michael tirou no Sudão do Sul e em suas incontáveis viagens pelo mundo, acesse: www.michaelrunkel.com

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