Lixo orbital faz um belo buraco em braço da Estação Espacial
Estação Espacial Internacional em 2018 (Crédito: NASA/Roscosmos) |
A Estação Espacial Internacional passou por um pequeno susto; algo, talvez um micro-meteoro atingiu o braço robótico, mas está tudo bem
É um conceito puramente relativístico. Se você está num carro a 80Km/h e atinge uma parede sofre os mesmos danos, é atingido com mesma energia se estiver parado no carro e uma parede a 80Km/h te atingir, embora essa parte da analogia seja bem mais improvável de acontecer.
Em essência, o que mata não é a bala em si, mas a energia cinética. Se você correr a 853 m/sem direção a um projétil .50 de um Barret M82 sua cabeça explodirá como uma melancia ao atingi-lo, mesmo com ele parado preso a um suporte.
Aqui temos o problema: A Estação Espacial Internacional orbita a 7.66Km/s, nove vezes mais rápido que uma bala. Imagine se ela encontra uma pedra, um parafuso, uma casca de noz. Se esse objeto estiver relativamente parado, atingirá a Estação com nove vezes mais energia que uma bala, se for do tamanho e massa de uma bala.
Se o objeto estiver em órbita retrógrada, as velocidades se somarão e teremos uma colisão 20 vezes mais potentes.
Pior, não é preciso imaginar. A Estação Espacial Internacional já registrou (cuidado, PDF) mais de 1400 impactos de micro-meteoros e lixo espacial, felizmente tudo muito pequeno. E sim mesmo as cápsulas Dragon da SpaceX foram atingidas várias vezes.
Lista parcial de impactos de micro-meteoros e lixo espacial (Crédito: Observations of MMOD Impact Damage to the ISS)
Os astronautas relatam que dentro da Estação Espacial, quando tudo fica em silêncio, dá pra ouvir os micro-meteoros atingindo os escudos de proteção, soa como uma chuva leve. Poético e mortal.
Já os painéis solares acabam sofrendo mais, de vez em quando algum objeto maior, com um ou dois milímetros de diâmetro atinge um deles, e deixa um belo buraco.
Agora o alvo foi o Canadarm2, o sofisticado braço robótico da Estação Espacial Internacional, usado para instalar equipamentos e atracar naves de carga. Foi um belo susto quando uma inspeção de rotina achou um baita furo na cobertura de proteção do braço.
"Dis just a flesh wound" (Crédito: NASA)
Sem o Canadarm2 muito do trabalho da Estação Espacial se tornaria mais complicado. As Dragons de carga da nova geração não utilizam mais o Canadarm2 para acoplar na Estação, mas outros veículos, exceto o Progress precisam dele, e o braço também é usado para recolher cargas no compartimento não-pressurizado da Dragon.
Consultado, o braço respondeu “é só um arranhão”, e reportou que está funcionando perfeitamente.
Crédito: Monty Python
Em teoria a Estação Espacial está protegida de detritos maiores, coisas do tamanho de bolas de tênis são monitoradas via radar, mas nada impede que um pedaço não-catalogado de lixo orbital, ou mais provavelmente um mini-meteoro a atinja, estragando o fim de semana dos astronautas. Eles só não perdem o sono por entenderem de estatística.
O Espaço é muito grande, as chances da Estação Espacial ser atingida por algo são inversamente proporcionais ao tamanho do objeto. Por isso eles escutam fragmentos microscópicos atingindo o casco todo o tempo, mas dos grandes, é bem mais raro. Ainda bem.