O Evanescence levou tempo para voltar, mas seus fãs, sem dúvida, acham que valeu a pena esperar.

O terceiro álbum dessa banda de rock com jeitão gótico, o primeiro desde "The Open Door", de 2006, estreou em outubro no topo da Billboard 200; é a segunda vez que a banda consegue tal façanha. Para a vocalista Amy Lee, única integrante da formação original, a recepção compensa o longo tempo entre um trabalho e outro, além de sua decisão de rejeitar as primeiras tentativas de fazer o disco.



Ela, porém, confessa que estava mais que preparada para reconquistar o público se por acaso ele tivesse se desencantado durante os cinco anos de silêncio.


"Eu simplesmente deixei de pensar (na banda) durante um bom tempo", diz Amy por telefone, falando de Nashville. "Eu me afastei completamente do Evanescence. Estava disposta a desencanar. Na minha cabeça, eu já tinha decidido, tipo, mesmo que levasse dez anos para eu me sentir inspirada de novo e fazer outro álbum, seria melhor esperar e fazer um trabalho bom _ mesmo que isso significasse não ter mais fãs, o que é algo muito possível; tudo bem se o povo se esquecesse da gente. Se a música fosse boa mesmo, a gente conseguiria recomeçar e estourar de novo".


"Há essa ideia de que todo mundo agora tem memória curta e que, se você não se apressar e lançar alguma coisa, não tem mais futuro na música", Amy conclui, "mas eu não acho que isso se aplique aos nossos fãs. Essa volta está sendo muito legal, principalmente depois de tanto tempo… ver o pessoal saindo da toca, aos poucos, no mundo inteiro. Sem dúvida, é muito bom, incrível mesmo, perceber que ainda tem tanta gente que curte nosso trabalho".

Esse foi o caso do Evanescence desde o início, é claro.

A californiana Amy Lee e o compositor Ben Moody fundaram o Evanescence em Little Rock, no Arkansas, em 1995, depois de se conhecerem num acampamento religioso para jovens. Baseado no sucesso local de três EPs e uma coleção de demos, o grupo assinou um contrato nacional e lançou o primeiro álbum, "Fallen", em 2003. Impulsionado pelo single "Bring Me to Life", vendeu mais de 17 milhões de cópias no mundo inteiro e ainda faturou dois prêmios Grammy.


Porém, a trajetória não foi fácil. Moody saiu quando a banda estava em turnê e foi seguido pelos outros integrantes nos anos seguintes _ aliás, Moody, John LeCompt e Rocky Gray voltaram a se reunir, em 2009, para montar um grupo muito parecido com o Evanescence chamado We Are the Fallen, que tinha Carly Smithson, a finalista do "American Idol", nos vocais.

"Aquilo não teve nada a ver comigo ou com o Evanescence", Amy desabafa. "A única coisa que me incomoda nisso tudo, de verdade, é ter que ouvir falar... 'dos integrantes originais'. Acontece que os únicos membros originais do Evanescence somos eu e o Ben. John e Rocky chegaram depois que já tínhamos gravado 'Fallen', ou seja, muitos anos depois... essa expressão só inclui o Ben e eu. Tirando esse detalhe, não tenho nenhuma opinião a dar ou comentário a fazer".

Amy não se abateu; recrutou novos músicos e viu "The Open Door" ser lançado e emplacar o topo da parada em 2006 _ mas o conflito e a pressão a desgastaram e, quando se casou com Josh Hartzler, em 2007, já estava mais que preparada para uma pausa longa.


"Eu só queria dar uma parada", ela relembra. "Eu sentia que se tivesse engatado direto outro trabalho depois da turnê de 'The Open Door', nunca teria dado conta. Na verdade, eu não sabia o que eu queria, então deixei a coisa rolar".


"Adoro a normalidade", ela prossegue. "Adoro meu marido, amo ser normal, ir ao supermercado, comprar minhas verduras, meus presentes, sair com os amigos, sem tentar fazer com que a visão que o público tem de mim seja a coisa mais importante, porque não é mesmo. Foi por isso que eu meio que larguei mão do Evanescence e fiquei sem saber se voltaria ou não".

Amy acabou voltando e começou a trabalhar nas músicas novas em meados de 2009.

"Não dá para evitar", ela diz. "Eu amo música, aí voltei a compor".

A princípio, achou que o novo material produziria "o melhor álbum de sua vida" _ mas, conforme as gravações foram rolando, assim como o trabalho com o produtor Steve Lillywhite e as composições com Will "Science" Hunt, (não confundir com o atual baterista da banda, Will Hunt), ela sentiu que algo estava errado... até que finalmente decidiu que a única coisa a fazer era voltar à estaca zero.

"Não era a música do Evanescence", ela explica. "Algumas eram bem enxutas, acústicas, e eu estava naquela fase em que tudo tinha que passar pelo eletrônico... não tinha nada a ver com a banda".

"Quanto mais eu compunha, mais ficava empolgada com as músicas, mais queria que o resto do pessoal participasse e mais queria que elas fizessem parte do nosso álbum", Amy continua, "mas, quando começamos a entrar no estúdio na época, ninguém estava se dedicando para valer. Tinha alguma coisa errada com o som".

E o que foi que deu errado quando Amy, Hunt, o guitarrista Terry Balsamo, o guitarrista Troy McLawhorn e o baixista Tim McCord entraram no estúdio?

"Acho que o que estava faltando era o rock", Amy admite. "No fundo, o Evanescence é um grupo de rock. A gente precisava daquela força toda, da agressividade do guitarrista e do baterista. Agora sim o disco é um trabalho nosso, porque captou a nova atitude e os novos elementos, mas continua sendo a gente".

Por isso o título é o nome da banda.

"Eu tinha muitas ideias para nomes de álbuns", a cantora prossegue, "mas, cada vez mais, se tratava da banda... quando mais intensa a colaboração, mais a gente sentia que era parte daquilo _ e as músicas passam esse sentimento de que a banda está tão coesa, tão unida, que não havia outro nome. Era uma questão de se apaixonar de novo por tudo isso que ela representa, com mais força".

Amy e Cia. decidiram trabalhar com um novo produtor, Nick Raskulinecz, depois de saber que ele tinha sido responsável por alguns de seus trabalhos favoritos: "Black Gives Way to Blue", de 2009, do Alice in Chains, e "Diamond Eyes", do Deftones (de 2010).

"A gente sabia o som que queria e precisava de alguém que exigisse o máximo da banda", ela resume

Amy, Balsamo e McCord compuseram o primeiro single, "What You Want", na casa dela, em Nova York.

"Eu me lembro que o Tim e o Terry estavam trabalhando naquele primeiro acorde e verso", Amy explica, "e eu achei muito bom. Na verdade, achei fantástico… aí, sentei ao piano e comecei a tocar o refrão; na mesma hora todo mundo virou, tipo: "Aí, é esse o caminho"! Na mesma hora percebi que a canção tinha muita energia, que é uma coisa de que a gente gosta".


"A mensagem também era super positiva" ela acrescenta. "Era como se eu estivesse dando força a mim mesma, lembrando que não precisava ter medo, que devia me abrir e continuar tentando, insistindo... era como se dissesse: "Não tenha medo de voltar ao mundo, não tenha medo do fracasso. Você tem que fazer aquilo que mais ama". Isso é a minha cara, era exatamente por que eu estava passando na época".

Na verdade, na maior parte do álbum Amy se mostra positiva, compondo com uma postura diferente, mais madura e mais alto astral em relação aos dois trabalhos anteriores.

"As pessoas o recebem de formas diferentes", ela reconhece. "Tem aqueles que acham que a música é mais alegre, e eu concordo plenamente. Sob muitos aspectos, é menos cheio de angústia porque não estou jogando a culpa de nada em ninguém _ que é o que eu sinto quando ouço nossas músicas mais antigas. Ao mesmo tempo, tem quem chegue me perguntando por que estou tão desiludida nesse trabalho novo, querendo saber o que aconteceu".

"Acho que, desta vez, tem um pouquinho de cada coisa", Amy diz. "Envolve muitos sentimentos, muita dor, autoaceitação, superação do medo... quero pensar mais sobre a vida e como vivê-la, além de esperança, perdão e vários temas que não eram tão legais de explorar quando eu era adolescente".

Parte desse medo, Amy confessa, tem a ver com voltar para o Evanescence depois do exílio que impôs a si mesma.

"Quando estou com a banda, é Evanescence o tempo todo… começa a fazer parte de mim", a cantora afirma. "Depois de quatro anos afastada, vivendo uma vida normal e nem pensando na banda, não sabia se ela ainda fazia parte de mim, se ainda valia a pena, se ia crescer e se transformar em outra coisa, quem eu era. É por isso que, em grande parte das letras, sou eu tentando me encontrar".


No fim das contas, Amy conclui que ainda se sente muito à vontade na banda.

"Estou sentindo um carinho enorme dos fãs e tenho muito orgulho do trabalho que fizemos", ela finaliza. "Esse álbum é o que eu sou, e eu o adoro. Sei que passo muito bem sem (a banda), mas, no momento, é uma coisa muito boa na minha vida e estou muito feliz por ter caído de cabeça nela de novo".


(Gary Graff é redator freelance e mora em Beverly Hills, no Michigan.)

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