A renúncia de Steve Jobs como presidente-executivo da Apple abriu as portas para a rival Samsung Electronics em um momento crucial na batalha pela liderança no segmento de smartphones, travada nas lojas e tribunais de todo o mundo.
Jobs entregou o comando da empresa ao seu braço direito Tim Cook na quarta-feira, afirmando não estar mais em condições de cumprir suas funções, o que agravou temores de que a saúde do ícone do Vale do Silício tenha piorado.
Embora a Apple e analistas tenham destacado a experiência de Cook e a permanência de Jobs como presidente do conselho, além do forte quadro de executivos do grupo, a saída dele influencia a situação da sul-coreana Samsung, rival da Apple.
As receitas da Samsung, mais que de qualquer outra empresa, estão ligadas às da Apple, tanto como concorrente quanto como fornecedora de componentes.
As empresas são rivais diretas, e a linha Galaxy de smartphones e tablets da Samsung, equipados com o sistema operacional Android, do Google, é vista como principal concorrente ao iPad e iPhone.
"Mesmo antes da renúncia de Steve Jobs, a Samsung estava ficando mais e mais otimista com sua capacidade de enfrentar a Apple diretamente no mercado de celulares inteligentes", disse Mark Newman, ex-diretor de estratégia da Samsung.
"Agora, o jogo está aberto e a Samsung só perderá se quiser. Estão ganhando mercado devido à mudança da dinâmica no setor de celulares inteligentes", acrescentou Newman, que hoje é analista de produtos de memória e bens eletrônicos de consumo na Sanford C Bernstein.
"A gigante sul-coreana fez grandes avanços, e agora está se preparando para destronar a Apple", acrescentou.
Quando executivos da Samsung perguntaram a Hong Won-pyo, vice-presidente executivo da divisão móvel da empresa, em reunião semanal na quarta-feira, se a companhia seria capaz de superar a Apple no mercado de smartphones no curto prazo, ele respondeu que estava confiante, de acordo com um participante da reunião, realizada horas antes do anúncio da saída de Jobs.
As ações da Samsung, assim como de outros concorrentes asiáticos, subiram nesta quinta-feira na Ásia.
Em Seul, os concorrentes sul-coreanos da Apple registraram alta nesta quinta-feira. As ações da Samsung Electronics, cujo tablet Galaxy compete com o iPad, ganharam 2,4% e as da LG Electronics, 1,27%.
Para Greg Roh, analista do banco HMC Investment Securities, os próximos três ou quatro anos serão vitais para os concorrentes da Apple após o fim da era Jobs.
"As empresas tecnológicas sul-coreanas terão que trabalhar muito neste período crucial para alcançar ou superar a Apple", disse.
MODELO
A renúncia aumentou os rumores de que as condições de saúde do executivo tenham piorado. O banco JPMorgan, no entanto, avalia que o impacto dessa mudança vai ser pequeno no médio prazo.
"Embora a notícia possa pesar sobre as ações no curto prazo, acreditamos que
o modelo da empresa foi criado para durar, sustentando uma forma de vida digital que outros representantes da indústria ainda precisam desafiar", afirmou em nota a clientes.
O banco acrescentou ainda que a notícia pode criar um ponto de entrada atrativo para investidores que querem formar posições mais longas na companhia.
SAÍDA
Jobs, 56, anunciou na quarta-feira que deixará o cargo que ocupava desde 1997, levantando dúvidas sobre o futuro da maior empresa de tecnologia do mundo. Os motivos não foram revelados, mas o executivo está desde janeiro de licença médica --a terceira nos últimos sete anos.
"Sempre disse que, se chegasse o dia em que não poderia mais cumprir meus deveres e expectativas, eu seria o primeiro a avisá-los", disse Jobs em comunicado (leia abaixo) à diretoria da Apple. "Infelizmente esse dia chegou."
Jobs passou por um transplante de fígado há dois anos e, em 2004, descobriu que tinha uma forma rara de câncer no pâncreas.
Nas suas raras aparições neste ano, como no lançamento do iPad 2, em março, ele pareceu ainda mais magro que o normal.
| Ryan Anson/France Presse | |
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Steve Jobs mostra a versão branca do iPhone 4 à época do lançamento |
Apesar de estar de licença desde o início de janeiro (nem ele nem a Apple explicaram a razão), o momento do anúncio foi considerado surpreendente, aumentando ainda mais os questionamentos sobre o estado da sua saúde.
Segundo o "Wall Street Journal", o executivo continuava envolvido nos últimos meses na empresa e na estratégia de desenvolvimento de produtos --
nova versão do iPad deve chegar às lojas nos próximos meses, assim como o mais recente iPhone.