Crianças e adolescentes que se submetem a tomografias computadorizadas (exame com nível de radiação maior do que um raio-X) têm risco 24% maior de desenvolver câncer do que aqueles que não fizeram o exame.
É o que aponta o maior estudo já feito sobre o tema, com um grupo de 10,9 milhões de pessoas de até 19 anos da Austrália.
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Desse grupo, 680 mil fizeram tomografias ao menos 12 meses antes de um diagnóstico de câncer, para excluir os exames feitos durante a investigação da doença. Os voluntários foram acompanhados por nove anos e meio.
O risco absoluto de câncer, porém, permanece baixo. Em um grupo de 10 mil jovens, espera-se que 39 casos de câncer ocorram em dez anos. Se cada um deles fizesse uma tomografia, sete casos a mais apareceriam.
Editoria de arte/Folhapress
A preocupação com as crianças é maior porque seus tecidos ainda estão em formação, o que as torna mais suscetíveis às doses de radiação. A chance de elas repetirem o exame e acumularem os efeitos danosos ao longo da vida também é grande.
Recentemente, outras pesquisas apontaram o risco elevado de câncer em jovens que haviam feito o exame.
No entanto, segundo os autores do novo estudo, publicado no periódico "British Medical Journal", especialistas em radiação ainda questionavam a validade dos resultados e havia incerteza sobre o risco de câncer ligado à tomografia.
Especialistas dizem que o novo trabalho confirma e consolida as informações que já existiam a respeito.
"É um trabalho importante porque havia controvérsia sobre esse risco", diz Lisa Suzuki, radiologista do Hospital Infantil Sabará.
O estudo mostra um risco aumentado para tumores sólidos (de cérebro, pele, tireoide, trato urinário, órgãos digestivos etc.), leucemia e outros cânceres linfoides, em especial quando a exposição à radiação aconteceu antes dos cinco anos de idade.
BOM SENSO
Segundo Suzuki, campanhas internacionais e protocolos já sugerem a redução da radiação para crianças.
No Sabará, por exemplo, existe o plano de criar uma "carteira da radiação", nos moldes da de vacinação, para anotar os exames aos quais a criança foi submetida. Esse controle deve ser lançado no segundo semestre.
Marcos Menezes, coordenador do Centro de Diagnósticos do Hospital Sírio-Libanês, afirma também que os tomógrafos modernos podem ter uma dose de radiação 16 vezes menor que a padrão.
"O paciente tem direito de saber e questionar o tipo de tecnologia e a dose de radiação que vai receber e comparar para fazer uma escolha melhor", diz.
Cecilia Maria Lima da Costa, diretora do setor de oncologia pediátrica do A.C. Camargo, diz que exames que não usam radiação, como a ressonância magnética, têm ganhado mais espaço nessa faixa etária, mas, em alguns casos, a tomografia é essencial, como em traumas e acompanhamento de câncer.
"É preciso pesar risco e benefício. Se for essencial, vale a pena correr esse risco pequeno", afirma.
O consenso é de que a indicação do exame tem que ser precisa para evitar radiação desnecessária.
"É preciso ter bom senso dos dois lados. Há pais que insistem para que os filhos façam exames mesmo quando o médico acha que não é indicado, e há médicos com a sensação de que os exames resolvem tudo", diz Suzuki.
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