Rejeitados pelas famílias, pacientes moram há anos em hospitais de São Paulo

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

A filha disse não, a irmã disse não, a prima disse não. Por causa de todos os "nãos", Rosa, 61, vítima de aneurisma cerebral, permanece internada em um hospital de São Paulo mesmo já tendo recebido alta há dois meses.

Casos de pacientes abandonados nos hospitais --porque a família não os quer ou porque perderam o vínculo com os parentes-- têm se tornado frequentes na capital e chamaram a atenção do Ministério Público paulista.

A Promotoria dos Direitos Humanos do Idoso instaurou um inquérito civil em que solicita que o Estado e o município criem serviços para acolher pacientes que não têm para onde ir. Promotores também têm acionado judicialmente famílias para que assumam seus doentes.

A Folha localizou ao menos 120 pacientes já em condições de alta, mas que permanecem internados no Hospital Auxiliar de Suzano (que pertence ao Hospital das Clínicas) e no Hospital D. Pedro 2º, ligado à Santa Casa de São Paulo. Eles somam quase 20% do total de internados.

Lucas Lima/Folhapress

Rosa, 61, no Hospital Auxiliar de Suzano

Morando nos hospitais, esses pacientes sofrem riscos de contrair infecções, além de ocupar leitos de pessoas que realmente precisam.

Rosa, paciente do Hospital de Suzano, sabe que a filha não a quer, mas fantasia outra razão para justificar o abandono. "Minha filha pensa que eu morri. É por isso que não veio me buscar."

Ela vivia nas ruas quando sofreu um aneurisma e ficou com sequelas: lado direito paralisado, problemas na fala e confusão mental. O caso está no Ministério Público.

Damaris Felipe dos Santos, 78, vive há exatos 67 anos no Hospital D. Pedro 2º, no Jaçanã, na zona norte. Tinha 11 anos quando lá chegou, com paralisia nas pernas.

Ela e outros dois pacientes do hospital --Celina, 65, e José Alberto, 67, ambos com síndrome de Down-- foram deixados ainda bebês na "roda dos enjeitados", que funcionou na Santa Casa até 1950.

Ficaram em um orfanato e, na adolescência, foram transferidos para o D. Pedro 2º. Nunca mais saíram. "Aqui não me falta nada. Muito menos amor", diz Damaris.

No hospital centenário, dois terços dos pacientes não têm família.
Adriano Vizoni/Folhapress

Damaris Felipe dos Santos, 78, no hospital D. Pedro 2º, em São Paulo, onde mora há 67 anos


"É uma situação crítica. Quanto mais vulnerável o paciente, menor é a chance de acolhimento fora do hospital. Não há lugar", diz a promotora de direitos humanos do idoso Cláudia Beré.

As duas instituições estão lotadas (com ocupação de 94%) e há uma fila de espera de 50 pacientes, em média. Chamados de hospitais de retaguarda, abrigam pacientes crônicos (com síndromes genéticas, sequelas de derrame, aneurisma e traumatismos).

"Muitos são ex-moradores de rua, não têm para onde ir. Mas outros têm filhos, que não querem levar a mãe ou o pai para casa porque acham que vão dar muito trabalho", diz Fábio Ajimura, diretor técnico do hospital de Suzano.

O Hospital D. Pedro 2º tem também 50 "desconhecidos", doentes que ali chegaram sem documentos e sem lembrança de família.

Nem o exame datiloscópico, que tenta a identificação por meio das impressões digitais, teve sucesso com eles.

Nesses casos, as assistentes sociais fazem um trabalho de detetive. "A gente fica esperando que eles se lembrem de algum nome, de alguma alguma cidade, e depois começamos a pesquisar, a juntar as pontas", diz Elaine Cristina Marques, assistente social do hospital de Suzano.

Hélio era morador de rua e foi atropelado. Não tem documentos, não fala, não anda. Um dia, balbuciou o nome. E os funcionários assim passaram a chamá-lo.

Ele é um dos pacientes não identificados que vivem em hospitais públicos de São Paulo. Todos estão no site da Secretaria de Estado da Saúde à espera de alguém que os identifique. E os leve para casa:

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