Aberta oficialmente nesta quarta-feira diante de um auditório repleto de chefes de estado e governo, a cúpula dos líderes na Rio+20, a conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, encerrou o primeiro dia de trabalhos no Rio de Janeiro com discursos mornos e burocráticos, com raros momentos de críticas mais incisivas.
As declarações que fugiram um pouco do protocolo, apesar de bastante sutis, foram protagonizadas pela presidente Dilma Rousseff e pelo primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, além do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Em seu pronunciamento oficial de abertura protocolar da cúpula dos líderes da ONU na Rio+20, Dilma criticou os países desenvolvidos, que, segundo ela, não cumpriram as promessas feitas há 20 anos, durante a Eco-92 (também conhecida como Cúpula da Terra), entre as quais a de ajudar financeiramente as nações mais pobres e a redução das emissões de gases.
"Sabemos que o custo da inação é maior do que o das medidas necessárias", disse. "O futuro que queremos não se construirá por si mesmo (...) (será preciso) mudanças profundas em nossas atitudes", acrescentou.
A presidente também afirmou que os países ricos "ficaram mais ricos", deixando "uma pesada carga para os países em desenvolvimento".
O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, foi na mesma linha. Segundo ele, "não se pode limitar o ritmo de crescimento dos países", em referência à tentativa dos países desenvolvidos de impor medidas que venham a frear o ritmo de crescimento da economia chinesa.
Como Dilma, ele defendeu o conceito de "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", estabelecido na Eco-92, pelo qual os ricos deveriam contribuir mais para o desenvolvimento sustentável do que os países em desenvolvimento.
Jiabao, entretanto, cujo país é duramente criticado pela emissão de poluentes, da grandeza de nações desenvolvidas, destacou que a China é um "grande país em desenvolvimento pronto para assumir suas responsabilidades".
O primeiro-ministro chinês também aproveitou para anunciar um fundo de US$ 6 milhões (R$ 12 milhões) para a capacitação de funcionários de países em desenvolvimento em temas relacionados ao meio ambiente.
Tom religioso
Outro discurso em destaque foi o do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, cuja vinda foi criticada antes de mesmo de sua chegada ao Rio de Janeiro. Grupos pró-Direitos Humanos protestaram no último domingo na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, contra a presença do iraniano.
No plenário, Ahmadinejad invocou um tom religioso para cobrar o estabelecimento de uma "nova ordem mundial", segundo o qual, precisa ser "redesenhada" em "com base em uma visão holística, e que se baseie em um Deus único".
Sem citar diretamente os Estados Unidos, ele criticou as guerras da Coreia, do Vietnã e do Iraque, além de protestar contra o que chamou de "guerra que os sionistas declararam contra os árabes".
Em retaliação à presença do governante, a delegação de Israel não assistiu ao pronunciamento.
Críticas
A Rio+20 encerrou o primeiro dos três dias da cúpula dos líderes de estado em meio a duras críticas pela timidez do texto-base da resolução final aprovado na última terça-feira.
Pela manhã, durante a abertura das negociações da cúpula, o próprio secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, afirmou que esperava um documento mais "ambicioso".
A crítica ganhou maior força com o protesto de organizações não-governamentais (ONG), que ameaçaram não assinar o documento final em repúdio à parte em que se lê "com a participação plena da sociedade civil".
A Rio+20 termina na próxima sexta-feira, quando se esperam compromissos mais concretos dos líderes dos 193 países-membros da ONU em prol do desenvolvimento sustentável.
BBC Brasil -
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