Os astrônomos identificaram a melhor localização na Terra para o estudo das estrelas. Mas se você é um astrônomo amador que espera tirar proveito deste ponto ideal, você terá que se preparar, pois ele está no coração da Antártida, um dos lugares mais frios do planeta.
O Dome A (ou Cúpula
A) – cúpula de gelo mais alta do Planalto Antártico – permite a visão mais
clara do céu estrelado à noite, de acordo com novas pesquisas publicadas esta
semana na revista Nature.As cúpulas de gelo são as porções mais altas das camadas
de gelo, elevando-se bem acima do terreno. A Cúpula A da Antártida, embora seja
um local ideal para observação de estrelas, é um dos lugares mais frios da
Terra, apresentando temperaturas que chegam a -90 graus Celsius. Isso é
semelhante à noite em Marte.
É de bater os dentes.
Assim, enquanto o
novo artigo propõe um local ideal para observações astronômicas, a localização
remota da Cúpula A, também conhecida como Cúpula Argus, apresenta alguns
desafios consideráveis. Os cientistas que quiserem montar um acampamento neste
local, além de lidar com o frio extremo, precisam viajar 1.200 quilômetros para
o interior do continente antártico.
A poluição luminosa
representa um problema tanto para os astrônomos profissionais quanto para os
amadores, mas é preciso mais do que somente evitar luzes de ruas e arranha-céus
para obter uma visão clara do céu noturno.
A turbulência
atmosférica, ao mesmo tempo em que dá às estrelas seu brilho característico,
pode dificultar a visão clara para o espaço. Os telescópios em latitudes médias
e altas, como os do Havaí e do Chile, são ideais neste aspecto, pois estes
observatórios aproveitam a turbulência mais fraca encontrada nestes locais.
Os astrônomos têm
uma métrica, chamada de número de visão, para denotar a qualidade da visão
noturna do céu. Ela é medida em segundos de arco. Quanto menor o número, menor
a turbulência e, portanto, uma melhor visão das estrelas, galáxias, nebulosas e
qualquer outra coisa que os astrônomos tentam ver. No Havaí e no Chile, o
número de visão está em torno de 0,6 a 0,8 segundos de arco.
Na Cúpula C, outra
cúpula de gelo localizada no Planalto Antártico, este número está entre 0,23 e
0,36 segundos de arco, destacando a região como um lugar ideal para se ver o
céu noturno. Aqui, a camada limite — a parte mais baixa da atmosfera da Terra –
é excepcionalmente fina, resultando em menos turbulência.
A Cúpula C é ótima,
mas como o artigo mostra, a Cúpula A é provavelmente melhor. Uma equipe
internacional da China, Canadá e Austrália fez medições noturnas neste local, o
que não havia sido feito antes, encontrando uma mediana de 0,31 segundos de
arco e um mínimo de 0,13 segundos de arco.
Os pesquisadores
também fizeram uma análise comparativa dos dois locais na Antártida. As
medições da Cúpula A a uma altura de 8 metros foram muito melhores do que as
medições feitas à mesma altura na Cúpula C. De fato, as medições da Cúpula A a
esta altura foram equivalentes às medições feitas a 20 metros na Cúpula C.
“Um telescópio
localizado na Cúpula A poderia superar um telescópio semelhante localizado em
qualquer outro local astronômico do planeta”, explicou Paul Hickson, astrônomo da
Universidade de British Columbia e co-autor do estudo, em um comunicado à
imprensa da UBC. “A combinação de alta altitude, baixa temperatura,
longos períodos de escuridão contínua e uma atmosfera excepcionalmente estável,
faz da Cúpula A um local muito atraente para a astronomia óptica e
infravermelha. Um telescópio localizado ali teria imagens mais nítidas e
poderia detectar objetos mais que emitem luz mais fraca.”
O frio ainda teve
um efeito prejudicial sobre os instrumentos utilizados no estudo, pois o equipamento
dos pesquisadores estava em desvantagem devido ao congelamento. Uma estação não
tripulada equipada com um monitor de movimento de imagem diferencial rastreou
os céus antárticos durante sete meses, com as temperaturas caindo a -75 graus
Celsius às vezes.
No comunicado à
imprensa, Bin Ma, principal autor do estudo e cientista da Academia Chinesa de
Ciências de Pequim, disse: “Em si mesmo, isso é um avanço
tecnológico”. Uma solução para o problema do gelo poderia melhorar a
visualização em 10% a 12%, de acordo com o estudo.
Além da astronomia,
a Cúpula A “é um laboratório natural para estudos da formação e
dissipação da turbulência dentro da camada limite”, escreveram os
autores em seu artigo. “Medidas futuras do tempo, visão e perfil de
turbulência de baixa altitude poderiam contribuir para uma melhor compreensão
da atmosfera antártica.”
Evidentemente, a
construção de um observatório no Planalto Antártico seria um enorme
empreendimento logístico. Os suprimentos e o pessoal teriam que ser
transportados de avião, enquanto a própria estrutura teria que suportar o frio
extremo e possivelmente até mesmo as mudanças no gelo. A mudança climática
provavelmente traria complicações adicionais.
Os cientistas finalmente
identificaram o melhor lugar na Terra para se fazer astronomia, mas será que
eles realmente farão isso acontecer? Estamos
entusiasmados para saber.
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