Como Grace Hopper abriu caminho para as mulheres na computação

Por Joyce Riha Linik, iQ Contributor @JoyceRihaLinik

Os feitos de Grace Hopper revolucionaram o mundo da computação durante décadas, mas sua inteligência e sua perspicácia continuam a inspirar inovadores até hoje.

A sala de Grace Hopper era bastante comum exceto, talvez, pela bandeira pirata e o relógio que andava para trás.

Hopper era famosa por dizer: “A frase mais perigosa é ‘Sempre fizemos assim'”.

Aquele relógio que andava para trás e a bandeira de Jolly Roger eram lembretes de que, com frequência, os desafios podiam ser superados abordando-os de maneiras novas, às vezes contrariando o sistema.

A “Incrível Grace” Hopper — também conhecida como a Rainha da Computação, A Rainha da Codificação, Almirante Grace, Vovó COBOL e a Grande Dama do Software – é reconhecida mundialmente por seu trabalho pioneiro em programar o primeiro computador digital de larga escala e por criar o primeiro compilador. Esse último abriu caminho para a primeira linguagem de programação que não exigia PhD em matemática.

“Grace Hopper foi uma pioneira para mulheres como eu seguirem”, disse Rahima Mohammed, principal engenheira do Grupo de Engenharia de Plataformas da Intel, que possui cinco patentes e mais de 100 trabalhos publicados em seu nome. “Ela quebrou barreiras de gênero e corporativas e inspirou uma nova geração de desenvolvedores de tecnologia e empreendedores a seguirem seus próprios caminhos a fim de lançarem novos conceitos e produtos importantes no mercado.”

Desafiando as probabilidades

Nascida em 6 de dezembro de 1906 na cidade de Nova Iorque, Grace Brewster Murray atingiu a maioridade durante a década de 1920. Inteligente e sensata, Grace estudou matemática e física no Vassar College e depois obteve o grau de mestre e PhD em matemática em Yale, tornando-se uma das primeiras mulheres a fazê-lo.

Em um dado momento, casou-se com Vincent Foster Hopper, passando a chamar-se Grace Hopper (nome que manteve mesmo após o divórcio do casal) e conquistou um emprego como professora de matemática na Vassar.

Ela poderia ter passado toda a sua carreira nessa universidade, se não tivesse ocorrido um acontecimento histórico.

Quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor em 1941, Hopper disse em um discurso registrado em um documentário: “O mundo estava em situação muito crítica. Todos no país tentavam fazer alguma coisa por aquele esforço de guerra.”

Embora Hopper tivesse 37 anos e fosse considerada velha demais para o serviço militar, ela convenceu um recrutador a aceitá-la como reservista no programa WAVES da Marinha dos EUA e graduou-se como primeira da classe.

A Tenente Hopper foi designada para a equipe do Serviço de Computação de Navios em Harvard com a tarefa de desenvolver uma máquina que pudesse fazer cálculos científicos rápidos a fim de entender os assuntos da guerra, tais como a trajetória das ogivas. Esse trabalho deu origem a um dos primeiros computadores digitais.

A Calculadora Automática de Sequência Controlada ou “Mark I” da IBM era imensa, medindo 24,5 metros de comprimento, 2,5 metros de altura, 2,5 de largura e peso em torno de 4,5 toneladas.

O trabalho de Hopper era programá-la.

Isso envolvia a tradução de problemas matemáticos para uma linguagem numérica que o computador pudesse entender. Embora no início Hopper não soubesse nada sobre programação, ela aprendeu rapidamente no trabalho.

“Grace é conhecida por pedir perdão em vez de permissão”, disse Jeni Panhorst, uma engenheira de computação que trabalha como chefe de pessoal do Grupo de Plataformas de Rede da Intel. “Ela costumava dizer: ‘se é uma boa ideia, vá em frente e faça porque é muito mais fácil pedir desculpas do que obter permissão.'”

Panhorst já experimentou esse princípio pessoalmente no trabalho do seu grupo para transformar o setor de infraestrutura de redes.

“Esse espírito de assumir riscos, colorir fora da linha e mudar o jogo é o que realmente faz a diferença”, disse Panhorst.

O problema mais complicado que Hopper e sua equipe foram solicitados a solucionar foi apresentado no outono de 1944 por John von Neumann, um matemático e físico que trabalhava no Projeto Manhattan. O desafio era encontrar uma maneira de fazer uma bola quebrar-se em si mesma, para calcular matematicamente onde os pontos de força deveriam ser posicionados em uma esfera para fazê-la implodir.

O Mark I executou cálculos 24 horas por dia, sete dias por semana, durante três meses, até que Hopper e sua equipe apresentaram uma solução que foi então aplicada ao projeto das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Os japoneses renderam-se menos de uma semana depois, dando fim à Segunda Guerra Mundial.

Acidentalmente, quando o Mark II (sucessor do Mark I) encontrou uma falha um dia, chegou-se à conclusão que uma mariposa havia sido atraída pelo brilho dos tubos a vácuo, entrou e ficou presa em um dos comutadores no interior da máquina. Hopper observou que eles teriam que fazer um “debug” (remover o inseto) do computador. A expressão pegou, tornando-se um termo comum no campo da ciência da computação.

Um novo capítulo

Depois da guerra, Hopper aceitou um cargo na Eckert-Mauchly Computer Corporation e ajudou a desenvolver o “UNIVAC”, um nome que se tornou sinônimo de “computador”.

Ela também criou o primeiro compilador, um programa que traduz linguagem legível para seres humanos em linguagem de máquina executável por computador. Foi um conceito revolucionário que reduziu enormemente o custo de traduzir programas de computador para serem executados em diferentes hardwares.

“Eu tinha um compilador em funcionamento e ninguém podia tocar nele”, afirmou em uma frase que ficou famosa. “Disseram-me que os computadores só podiam trabalhar com aritmética.”

Hopper ingressou em um consórcio chamado Conference on Data Systems Languages (CODASYL), cuja tarefa era desenvolver uma linguagem de programação padrão para todos os computadores. O grupo criou o COBOL – Common Business Oriented Language (Linguagem Orientada para Negócios Comuns), que ainda hoje é utilizada por alguns setores da indústria.

Retorno à Marinha

Em 1967, a Marinha convidou Grace para voltar à ativa para ajudar a padronizar a comunicação entre diferentes linguagens de computador. Nessa época ela estava com 60 anos e a designação estava prevista para seis meses. Durou 19 anos.

Nesse período, Grace tornou-se porta-voz da Marinha, fazendo centenas de palestras sobre sua experiência nos primórdios da computação, desafiando a próxima geração a assumir a iniciativa e levá-la adiante.

“Grace era ao mesmo tempo brilhante, corajosa, irreverente e afetuosa”, acrescentou Panhorst. “Ela usou sua inteligência para o bem. Ela sabia como fazer e ouvir uma piada. Sabia quando a melhor decisão era quebrar as regras. Sabia que o mais importante era focar nas pessoas, mais especificamente nos jovens.”

Uma das coisas que fizeram de Hopper uma professora tão popular foi o uso que fazia de ilustrações e analogias inteligentes para ajudar seu público a fazer conexões. Em muitas de suas palestras ela distribuía pedaços de arame com exatamente 30 cm de comprimento, explicando que esse comprimento representava um nanossegundo, a distância máxima que a luz ou a eletricidade percorria em um bilionésimo de segundo.

“Quando um almirante lhe perguntar por que é preciso tanto tempo para enviar uma mensagem via satélite”, Hopper contou ao apresentador David Letterman em 1986, ao explicar o conceito de nanossegundo. “Você ressalta para ele que entre onde estamos e o satélite há um grande número de nanossegundos.”

Comodoro Grace M. Hopper, Marinha dos EUA (de quepe).

Legado

Quando se aposentou da Marinha em 1986, Grace estava com 79 anos e era a mais idosa entre todos os oficiais em serviço. Após sua aposentadoria, Grace atuou como embaixadora de boa vontade e palestrante da Digital Equipment Corporation.

Faleceu em 1992 com 85 anos mas, ao longo de sua vida Grace recebeu inúmeros prêmios importantes.

Recebeu a primeira edição do Prêmio “Homem do Ano” da Ciência da Computação conferido pela Associação de Gerenciamento de Processamento de Dados. Tornou-se a primeira mulher e primeiro cidadão americano a ser nomeada Distinguished Fellow pela British Computer Society e foi agraciada com a Defense Distinguished Service Medal, a mais alta condecoração conferida em tempo de paz pelo Departamento de Defesa dos EUA. Em 1991, foi presenteada com a Medalha Nacional de Tecnologia, tornando-se a primeira mulher a receber individualmente a honraria.

Centros de computação, bolsas de estudo, um contratorpedeiro da Marinha e um Doodle do Google receberam seu nome, mas a homenagem que Grace talvez tenha gostado mais é a GHC –Grace Hopper Celebration of Women in Computing. Considerado o maior encontro de mulheres tecnólogas do mundo, o evento anual foi criado em 1992 pelo Instituto Anita Borg para Mulheres e Tecnologia (ABI).

“O trabalho mais importante que realizei, além de construir o compilador, foi treinar pessoas”, disse Hopper a sua biógrafa Lynn Gilbert. “Eu as acompanho à medida que envelhecem e as provoco de vez em quando para que não se esqueçam de assumir riscos.”

O evento da GHC deste ano, que será realizado em Houston de 14 a 16 de outubro, deverá atrair mais de 12.000 participantes de todo o mundo.

“Este evento é realmente uma celebração da abrangência e profundidade da atuação das mulheres no campo da computação, com mais de 500 apresentadores falando sobre tópicos que vão desde novas aplicações da inteligência artificial, até a mais recente pesquisa sobre interações entre seres humanos e o computador”, explicou Mon Sabet, diretor da GHC.

“Grace Hopper não foi somente uma incrível matemática e cientista da computação durante uma época em que era particularmente desafiador para uma mulher desempenhar essas funções, ela também foi apaixonada pela orientação de jovens”, diz Gabriela Gonzalez, estrategista do programa STEM da Intel.

“Seu legado como pioneira em tecnologia e mulher de visão continuará a abrir caminho para a ampliação da inclusão de mulheres em todos os setores da tecnologia pelas próximas gerações.”

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