GRAMMY: O POP AGONIZA

               Sem querer, os organizadores da cerimônia do Grammy deram uma ideia bem clara da decadência e má qualidade do pop contemporâneo: foi só colocar Ariana Grande pra cantar antes de Tom Jones.

Grande, 21 anos, interpretou “Just a Little Bit of Your Heart”, faixa de seu disco “My Everything” (o CD saiu em agosto de 2014 e liderou o Top 200 da “Billboard”). Foi uma cafonice só: acompanhada por DOZE violinistas, a cantora, que deve acordar todo dia ouvindo discos de Whitney Houston, gritou mais que um pequinês com cólicas.



Logo depois, o britânico Tom Jones, 74, fez um dueto com a cantora Jessie J, interpretando um clássico pop de 1964, “You’ve Lost That Loving Feeling”, composto por Phil Spector e pelo casal Barry Mann e Cynthia Weill (Mann e Weill estavam na plateia; Spector continua preso).



A diferença de qualidade das canções foi abissal. Quero ver se alguém ainda vai lembrar “Just a Little Bit of Your Heart” no Grammy de 2066. Quem aposta?

A supremacia do passado não parou por aí: Annie Lennox, cantora do Eurythmics, foi ovacionada pela interpretação, com o cantor irlandês Hozier, de uma música composta por Screaming Jay Hawkins em 1956 – “I Put a Spell On You”, famosa na voz de Nina Simone.

Tony Bennett, que num acesso de insanidade – e problemas financeiros, talvez? – gravou um disco inteiro de “standards” com Lady Gaga, subiu ao palco com a moça para interpretar “Cheek to Cheek”, composta em 1935 por Irving Berlin. E Beyoncé cantou uma música de mais de 100 anos, o hino gospel “Take My Hand, Precious Lord”.

Nem a música vencedora do prêmio de melhor canção de 2014 – “Stay With Me”, do xaropento Sam Smith, outra cria da escola Whitney Houston/”American Idol” de trilha pra embalar festa de debutante – escapou das comparações com o passado: é um plágio descarado de “I Won’t Back Down”, que Tom Petty gravou em 1989. As músicas são tão parecidas que Smith reconheceu “a coincidência” e acertou uma compensação para Petty. “Eu tenho só 22 anos, não conhecia essa música”, disse o cara de pau. Tá bom.



Outros artistas vencedores na noite, como Pharrell Willians e Beck, ganharam por músicas e discos que trazem sonoridades do passado. “Happy”, de Pharrell, poderia muito bem ter sido gravada por Stevie Wonder nos anos 70, e o mais recente disco de Beck, “Morning Phase”, traz influências claras da cena de folk de Laurel Canyon dos anos 70 – Crosby, Stills, Nash & Young, James Taylor, Carole King, etc.

Madonna reciclou o visual de toureira, que já havia utilizado no clipe de “Take a Bow”, de 1994, para a apresentação, estilo Cirque de Soleil, da ridícula “Living for Love”, um poperô de oitava categoria que traz a “material girl”, aos 170 anos de idade, fingindo ter 17, sendo agarrada por dançarinos musculosos e quase sufocando numa roupa três vezes menor do que o recomendável.

Mas triste mesmo foi ver Herbie Hancock de coadjuvante de Ed Sheeran na interpretação de “Thinking Out Loud”, canção de Sheeran que, em português, significa “Pensando em Voz Alta”. Se pensasse em voz alta naquele momento, Hancock certamente diria: “P... que pariu, já toquei com Miles, Ron Carter, Freddie Hubbard, revolucionei o jazz no último meio século, e agora estou aqui tocando pianinho nessa música chinfrim desse cabeça de cenoura. O que um coroa que nem eu não faz pra aparecer no Grammy?”

إرسال تعليق

DÊ SUA OPINIÃO, COMENTE ESSA MATÉRIA.

ملحوظة: يمكن لأعضاء المدونة فقط إرسال تعليق.

[facebook]

$ok={Aceitar!} $days={7}

O "Minha Cidade em Foco" usa cookies para melhorar sua experiência. Saber mais

MKRdezign

{facebook#http://www.facebook.com/MundoMS} {twitter#http://twitter.com/MundoMSOficial} {google-plus#http://plus.google.com/+MundoMSOficial} {pinterest#http://br.pinterest.com/MundoMS/} {youtube#http://www.youtube.com/c/MundoMSOficial} {instagram#http://www.instagram.com/mundomsoficial}

Fale com o Mundo MS

الاسم

بريد إلكتروني *

رسالة *

يتم التشغيل بواسطة Blogger.
Javascript DisablePlease Enable Javascript To See All Widget