© image/jpeg Detectada-atmosfera-em-super-Terra-a-39-anos-luz-daqui

Respire fundo. E fique feliz – afinal, há alguma coisa para respirar. Foi detectada, pela primeira vez na história, uma atmosfera considerável em um exoplaneta rochoso de dimensões semelhantes às da Terra – as famosas “super-Terras”, como Proxima B. GJ 1132b tem massa 60% maior que a do nosso planeta, e fica a 39 anos-luz do Sistema Solar, na órbita da anã-vermelha GJ 1132 (sim, a mesma coisa, só que sem o “b”).

Super-Terras são planetas rochosos de outros sistemas estelares que são só um pouco maiores que a Terra. Eles estão na mira de astrônomos porque, quando localizados na zona habitável de suas estrelas, representam uma boa chance de encontrar água e vida alienígena – ou, na pior das hipóteses, uma casa nova para nós mesmos. GJ 1132b já era conhecido antes – a novidade é mesmo o gás em seu entorno.

Do nosso ângulo de observação, GJ 1132b passa na frente de sua estrela em intervalos regulares. A fração de luz que ele “tampa” em cada passagem foi suficiente para a equipe do astrônomo britânico John Southworth calcular suas dimensões – afinal, quanto maior o guarda-sol, maior a sombra.

Acontece que uma das observações, feita em um comprimento de onda específico, deu a GJ 1132b um tamanho generoso, bem gordinho – e todas as outras deram a ele um diâmetro só 40% maior que o da Terra. A diferença só podia ser explicada por uma camada de gás em torno do planeta – com características específicas que a tornariam invisível a alguns métodos de observação e visível a outros. Segundo o artigo científico, uma atmosfera rica em metano e água teria as propriedades necessárias para gerar o efeito verificado.

A descoberta já vem de fábrica com as ressalvas pé-no-chão habituais. Apesar das dimensões similares às da Terra, as observações ainda não são detalhadas o suficiente para bater o martelo sobre as condições de vida na superfície de GJ 1132b. Segundo os pesquisadores, não dá pra descartar a possibilidade de que ele seja um mundo aquático de temperaturas elevadas – em outras palavras, uma sauna gigante, com felpudas nuvens de vapor.

O maior motivo para otimismo não está no planeta em si, mas em sua relação com a estrela que orbita. GJ 1132 é uma anã-vermelha, o tipo de estrela mais comum da Via Láctea. Elas são muito ativas e liberam torrentes de partículas que, segundo a maior parte das simulações astrofísicas, seriam fortes o suficiente para “varrer” a atmosfera de planetas muito próximos. O fato de que um planeta foi capaz de manter seu gás em torno de si por mais de um bilhão de anos na vizinhança de um tipo de Sol tão “rebelde” – mas ao mesmo tempo tão comum – indica que locais potencialmente habitáveis na nossa vizinhança cósmica podem ser mais frequentes e resistentes do que antes se pensava.

Bruno Vaiano