O CEO da Amazon, Jeff Bezos, em demonstração do Kindle Paperwhite, durante evento em Santa Monica, Califórnia, em setembro. 06/09/2012
Foto: Gus Ruelas / Reuters

Quando o CEO Jeff Bezos, da Amazon, recebeu a notícia de um projeto do Google de digitalizar e escanear catálogos de produtos, uma década atrás, as sementes de uma crescente rivalidade estavam sendo plantadas. A notícia foi uma "chamada de despertar" para Bezos, um dos primeiros investidores no Google. Ele a viu como um alerta de que o serviço de busca na web poderia avançar sobre seu império de varejo online, de acordo com um ex-executivo da Amazon.

"Ele percebeu que o escaneamento de catálogos era interessante para o Google, mas a verdadeira vitória para o Google seria a de conseguir que todos os livros fossem escaneados e digitalizados" para depois vender edições eletrônicas, disse o ex-executivo. Assim começou uma rivalidade que vai ganhar força em 2013, à medida que as áreas rivais das duas empresas crescem, abrangendo a publicidade online e de varejo para dispositivos móveis e computação em nuvem.

Isso poderia pôr fim às últimas áreas remanescentes de cooperação entre as duas empresas. Um exemplo: a decisão da Amazon de usar uma versão simplificada do sistema Android, do Google, em seu novo tablet Kindle Fire, conjugada aos ambiciosos planos do Google para sua unidade de dispositivos móveis da Motorola, só vão provocar mais tensão.

O confronto marca a mais recente frente em uma guerra da indústria de tecnologia em que muitos combatentes estão se espalhando por territórios uns dos outros. À espreita nas sombras do Google e Amazon está o Facebook, com o seu próprio serviço de busca e ambições de publicidade.

"A Amazon quer ser o lugar único onde você compra tudo. O Google quer ser o lugar único onde você encontra tudo, e onde a compra de coisas é uma consequência", disse Chi-Chien Hua, sócio da empresa de capital de risco Kleiner Perkins Caufield & Byers. "Assim, quando se juntam esses fatos, acho que vamos ver uma colisão natural". Ambas as empresas têm muito em jogo.

A capitalização de mercado do Google, de 235 bilhões de dólares, é aproximadamente o dobro da da Amazon, em grande parte porque o Google obtém enormes lucros líquidos. Segundo a projeção dos analistas, esse lucro será de 13,2 bilhões dólares este ano, com base em uma enorme margem de lucro de 32 por cento, de acordo com a Thomson Reuters I/B/E/S. Quanto à Amazon, a previsão é que vá reportar uma pequena perda este ano.

Acionistas da Amazon têm sido pacientes, já que a empresa tem investido visando ao crescimento, mas ela vai ter que começar a produzir fortes lucros em algum momento - algo mais provável se crescer em áreas de maior margem, como a publicidade. O preço da ação da Google, por sua vez, é vulnerável aos sinais de desaceleração da margem de crescimento.

Publicidade
Não muito tempo depois de Bezos ter se inteirado dos planos do Google para os livros, a Amazon começou a digitalizar obras e a oferecer trechos para pesquisa. Seu e-reader Kindle, lançado alguns anos depois, deve muito de sua inspiração à notícia do catálogo, disse o executivo. Agora, a Amazon está impulsionando seus esforços de publicidade online, ameaçando atrair usuários e receita do principal site de buscas do Google.

O negócio incipiente de anúncios da Amazon ainda é uma fração do administrado pelo Google. A Robert W. Baird & Co. estima que a Amazon está no caminho certo para gerar cerca de 500 milhões de dólares em receitas de publicidade anual - um valor pequeno, dado que registrou 48 bilhões de dólares de receita total em 2011. Já no Google, 96 por cento dos 38 bilhões em vendas em 2011 vieram de publicidade.